segunda-feira, 25 de abril de 2011

Je suis une Kölsch

Cerveja: Pfaffen Bier Original
Cervejeira: Pfaffen Brauerei Max Päffgen, Lohmar, Alemanha

Embora a família Päffgen esteja ligada ao negócio da cerveja há mais de 100 anos, foi apenas em 2001 que Max Päffgen decidiu construir uma fábrica de cerveja na quinta da família em Lohmar, uma pequena vila situada a 20 Km de Colónia. Grande parte da produção é escoada no ausschank (o bar oficial da cervejeira) estabelecido bem no centro da cidade velha de Colónia.

Não tendo provado pessoalmente as cervejas da casa, a pontuação dada a esta Pfaffen Bier Original nos sites da especialidade não deixa margem para dúvidas: trata-se de um dos melhores exemplos de uma cerveja do estilo Kölsch. Nada de surpreendente aqui, dado aquele estilo ser originário de Colónia. Mas não deixa de ser estranho não haver uma única menção àquele estilo quer no nome da cerveja, quer em qualquer referência no respectivo site. Qual será a razão?

Colónia pertence a um clube restrito de cidades cujo nome está directamente ligado a determinado estilo de cerveja. Plzeň, Berlim, Düsseldorf, Burton, Einbeck, Dortmund, Bamberg. Nomes que se confundem com cerveja, tal como Kölsch se confunde com Köln. 

Não é de estranhar, portanto, que, em 1985, as então 24 cervejeiras que fabricavam Kölsch tenham-se reunido e definido as regras para a utilização daquela denominação de origem. Para além das características intrínsecas à própria cerveja (clara, fermentação alta, pouco encorpada devido a uma atenuação alta) ficou também estabelecido que seria obrigatório que a sua fabricação fosse feita em Colónia. Houve, no entanto, alguma abertura para que marcas já estabelecidas fora da cidade, como por exemplo a Kurfürsten em Bona, pudessem também utilizar a designação. E aí está a explicação para a Pfaffen Bier Original.

Passados mais de 25 anos sobre a Kölsch-Konvention, assim se chamou o documento que selou aquele acordo, é ainda pertinente fazer esta distinção quando as 6 Kölsch que estão melhor classificadas no Ratebeer não são sequer alemãs?

Hoje em dia, Kölsch é uma DOP (Denominação de Origem Protegida) tal como o é, por exemplo, o nosso Vinho do Porto ou o Queijo da Serra. Este mecanismo, tal como a Kölsch-Konvention, visa proteger a autenticidade e qualidade dos produtos alimentares regionais para evitar "coisas" como Vinhos do Porto californianos e australianos.

No entanto, se houver o cuidado de rotular uma cerveja como tipo-Kölsch, não me parece que daí venha mal ao mundo. O consumidor sabe que está diante um produto que poderá ter semelhanças com o original, seja no aspecto, gosto ou método de fabrico, mas não o é. E isto nada diz em relação à sua qualidade, apenas à sua origem. A denominação de origem fica salvaguardada e nós ficamos com maiores opções de escolha.

Haverá certamente quem discorde desta minha visão e ache que, em ocasião alguma, se deveriam utilizar estes termos fora da área geográfica de origem. Eu, que tenho como Pilsners preferidas uma holandesa e uma americana, só posso ter esta opinião.

7 comentários:

  1. Cara, tezão!

    Curti teu blog, agora to com vontade de ter essas bolachas! Hahaha
    Vou te add no meu blog lá.

    Um abraço!

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  2. Olá Fernando,
    Também coleciono bases para cerveja (ou bolachas),por sinal tu tens algumas bem interessantes.
    Parabéns pelo blog e sucesso!!

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  3. Muito legal seu blog!! Já linkei no meu.

    Um abraço,
    Claudio

    http://cervejacastrum.blogspot.com

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  4. Mais uma vez, "sacaste" de uma simples base (ou bolacha!) um tema muito interessante.
    Não sou nenhum purista dos estilos de cerveja. Cada vez mais as fronteiras entre estilos são postas em causa. E ainda bem, pois os responsáveis por essa "confusão" são, muitas vezes, produtos complexos e fascinantes.
    Mas, por outro lado, reconheço que os estilos são úteis e nos ajudam a ter uma ideia do que temos à nossa frente e do que podemos esperar da cerveja (principalmente quando não há mais informação sobre a mesma).
    Já quanto aos DOP's, não lhes vejo grande valor acrescentado. Tirando casos muito específicos (e no mundo da cerveja temos um bastante significativo - as Lambic/Geuze), a maior parte das vezes, a denominação de origem é mais uma jogada de marketing e diz-nos muito pouco sobre o produto final, para além da sua origem geográfica (que não tem necessariamente influência nas características do produto). E diz menos ainda sobre a qualidade do mesmo. Até no caso das Lambic, há concerteza cervejas americanas muito melhores e mais próximas da qualidade de uma Cantillon do que as Chapeau da De Troch, em Wambeek, legítimas utilizadoras do rótulo Lambic.
    Concordo com a tua “sugestão” de utilização da expressão "tipo" para designar um produto genericamente no estilo de um produto DOP, como o já referido "Queijo tipo Serra" e como (no mundo da cerveja) acontece nos EUA com os “Barley Wine style Ale”, onde - imagino - os produtores de vinho garantiram o exclusivo da palavra vinho para produtos feitos com uva. Não vejo que mal é que daí pode vir...

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  5. Muito legal Fernando, parabéns pelo blog.
    Idéia inovadora, contar as histórias das cervejas e cervejarias a partir da base.
    Parabéns.
    Julio C Machado Jr

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  6. Parabéns pela idéia cara!
    tb coleciono algumas bases de cerveja, a maioria nacionais de cerv artesanais!
    Vou acompanhando, gosto de saber das historias por tras das bolachas!
    abraços

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