Cerveja:      La Trappe Quadrupel
Cervejeira: Brouwerij de Koningshoeven,      Tilburg, Holanda
Se falarmos da "Ordem dos      Cistercienses Reformados de Estrita Observância" a um apreciador      de cervejas, o mais provável de acontecer é um encolher de      ombros, mas uma referência aos monges trapistas (o nome pela      qual a Ordem é vulgarmente conhecida) fará certamente brilhar      alguns olhos.
Fundada em 1664, a Ordem      acabou por ser conhecida por trapista graças à localização da      primeira abadia em Soligny-la-Trappe na Normandia. Para nosso      gáudio, os monges trapistas vivem em observância estrita da      Regra de S. Bento, um conjunto de regras que desde o Séc. VIII      orientam a vivência das comunidades monásticas. Como o capítulo      48 da Regra define que os monges deverão eles próprios garantir      a sua subsistência através do trabalho, várias abadias começaram      a produzir bens de consumo não só para a comunidade mas também      para vender ao público. Para além dos queijos (aconselho      vivamente o de Chimay), licores, pães, sabões ou detergentes, a      cerveja é um dos produtos produzidos pelos monges e monjas.
A La Trappe é, hoje em dia, a      única cerveja trapista fabricada fora da Bélgica. Fundada em      1881 por um monge francês que buscava uma alternativa para o      crescente anticlericalismo no país natal, a abadia começou a      vender cerveja, para financiar o mosteiro e várias obras de      caridade, em 1884.
Das 7 abadias trapistas que      actualmente produzem cerveja, Koningshoeven foi sempre a que      teve a vertente comercial mais activa, quer na produção (de 1969      a 1980, a cerveja foi fabricada pela Brasserie Artois), quer na      comercialização (a exportação de cerveja, por exemplo, começou      em 1985).
Este facto, aliado à idade      avançada da comunidade, levou a que, em 1999, fosse formada uma      empresa responsável pelo fabrico e comercialização da cerveja,      em consórcio com uma das grandes holandesas, a Bavaria.
Dada essa aparente contradição      com aquilo que a congregação defendia para os seus produtos, a      Associação Trapista Internacional, decidiu proibir a utilização      do logótipo de produto trapista nas garrafas de La Trappe. Só em      2005, após terem sido dadas garantias de que os monges      participariam mais activamente na produção da cerveja, o      logótipo pôde voltar a ser usado.
Esta história remete-nos para      a reflexão do tradicional vs. industrial. Na vizinha Bélgica,      depois de ter recriado um estilo de cerveja em vias de extinção,      Pierre Celis, viu-se obrigado, por força de um incêndio que      destruiu a sua Brouwerij de Kluis, a vender a marca Hoegaarden à      Interbrew (actual InBev). Rapidamente descobriu que a qualidade      da cerveja começava a decair e mudou de ares para os Estados      Unidos onde recriou novamente a essência das witbiers com a      excelente Celis White.
Não é caso único,      infelizmente. Se há cerca de 10 anos me perguntassem qual seria      o meu top 5 de German Pilsener eu incluiria no lote a excelente      Pils da Cervejeira Lusitana sem hesitações. Hoje em dia, longe      dos tempos áureos da fábrica de Carnaxide (actualmente um parque      de estacionamento…) a Pils é uma cerveja banal.
Casos há em que,      aparentemente, a qualidade das cervejas é inalterada. Vamos ver,      por exemplo, por quanto tempo se mantém o carácter artesanal das      Baden Baden depois da compra pelo Grupo Schincariol. Cabe-nos a      nós como consumidores e apreciadores de cerveja estarmos atentos      e demonstrar junto dos produtores o nosso desagrado pelas      eventuais descidas de qualidade dos seus produtos. Vale o que      vale, mas pelo menos ficamos de consciência tranquila.
Editado originalmente em 28/12/2008 em http://www.cervejasdomundo.com/Barbas2.htm
Editado originalmente em 28/12/2008 em http://www.cervejasdomundo.com/Barbas2.htm

 
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